segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Férias e desespero

Essa não é mais uma crônica que fala sobre quão boas e quão estressantes podem ser as férias. Não vou falar dos litorais abarrotados de gente e de guarda-sóis, muito menos das felizes crianças que correm pelas areias atrás de suas imensas bolas coloridas. Não vou lembrar que nas férias a gente dorme até a hora do almoço, toma café e depois almoça na hora do café da tarde. E faço questão também de não citar que não temos mais a péssima necessidade de ficarmos presos num congestionamento às 6 horas da tarde em plena Avenida Paulista, já que todo o inferno caótico do trânsito desce as serras em direção ao mar junto com a gente.
1° dia útil das férias de dezembro de 2007. Planejei passar todos os dias fazendo nada durante o dia e depois descansar a noite sentada na frente do computador. E o melhor disso tudo é que não vou gastar um tostão sequer para relaxar ou me divertir. Não que enclausurar-se dentro de casa seja a melhor opção, mas economizar uma graninha sem se estressar até que não é uma má idéia assim.
Aí em casa vem o tédio. Você liga a TV e as coisas mais interessantes que se têm pra assistir são aqueles benditos programas da tarde que mostram desde o nascimento do bebê da Sheila Carvalho, até o maior sanduíche do Brasil com 4 kg. Depressão. Então você resolve ligar pra sua melhor amiga somente pra perguntar o que ela está fazendo. A mãe dela atende com voz de sono dizendo que ela foi passar uns dias no interior na casa dos avós. Depressão. Pra dar a volta por cima e superar o tédio, você liga o computador com a maior vontade de encontrar todos os seus colegas de faculdade, trabalho e afins online no MSN, mas tudo que você encontra é a lista praticamente inteirinha de bonecos pretos. O único verde é a irmã da afilhada da vizinha da sua prima de 2° grau, aquela garotinha birrenta de 9 anos que insiste em se achar grande perto das coleguinhas de 5. Depressão total. Depois de tantos tapas sem mão, só há uma solução. Ir até o quarto, pegar sua mochila velha e encher de roupas frescas. Em seguida, junte todas as suas economias e dirija-se à rodoviária mais próxima. Compre uma passagem de ida (porque na volta você dá um jeito de arranjar uma caroninha boa) e desembarque na Praia Grande ou em qualquer outro litoral abarrotado de gente, guarda-sol e crianças ramelentas correndo atrás de suas imensas bolas coloridas. Tenha certeza que lá você encontrará um colega que estudou com você na oitava série jogando frescobol com uma sunga em 2 cores cheia de areia, ou até mesmo aquele nerd da faculdade lendo um livro de Sócrates. Mas nestes casos, é muito melhor tentar uma aproximação (ou reaproximação no caso do cara do frescobol), do que ficar em casa apreciando a beleza do quarto de bebê da morena do Tchan.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Não busque

Terça feira de manhã. O café na cafeteira, o leite na leiteira e o jornal sobre a mesa. Todos os dias dele são assim, incluindo os finais de semana (prolongados ou não). E então ele resolve se levantar e procurar, além do emprego, uma razão a mais pra acordar todas as manhãs. Não tem esposa, tampouco filhos. Sua família, de origem paranaense, quase nunca o telefona nem sequer o visita. Natal e Ano Novo é sempre na casa de algum vizinho que também estaria sozinho. Solidão.É bem essa palavra que o define.
Naquela manhã, porém, decidiu que não voltaria para casa enquanto sua vida não tivesse tomado um rumo, enquanto suas contas não estivessem todas quitadas, enquanto não se sentisse mais dentro do mundo onde vive. Vestiu sua camisa cinza (exatamente aquela que faltava o penúltimo botão), escolheu a calça preta de sarja, calçou o sapato que antes pertencia ao seu primo Alberto e saiu em busca de algo que ele próprio não sabia. E foi.
O mundo girou, o dia acabou, a noite chegou. Então, já em casa, ele descobre que toda a andança não lhe serviu de nada. Sim, as contas estavam quase todas quitadas mas não havia dinheiro para pagar o gás e nem para dar de caixinha ao varredor de rua do bairro (ao varredor e tantos outros trabalhadores que nessa época do ano insistem em querer engordar o orçamento). Não sobrou dinheiro, não voltou casado, não se sentiu mais "mundano". Todo o tempo só lhe serviu para algo: perceber que não adianta sair em busca de alguma coisa que nem você mesmo sabe o que é. O melhor que se tem a fazer é fechar os olhos, colocar as mãos sobre a cabeça e gritar PUTA QUE O PARIU!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Então é Natal

Guirlanda, papai noel, árvores enfeitadas. Agora faltando 20 dias pro Natal aquela sensação de "nossa, como o ano voou!" começa a tomar conta das pessoas nas ruas, nas escolas, nos shoppings, em qualquer lugar. O sentimento natalino comove a todos (ou pelo menos uma grande parte da população), as pessoas tornam-se mais solidárias e compreensivas, fazem uma retrospectiva do ano que passou, praticam boas ações, perdoam erros imperdoáveis e abraçam seus inimigos, só que se a gente pára e raciocina pelo menos um pouco, a gente chega a conclusão que isso tudo vai acabar logo depois dos fogos de artifício e do almoço do dia 1 de Janeiro.
É tudo falso(ou para ser menos rude, é tudo passageiro).
Tenho certeza que muitos outros escritores já pararam e pensaram nisso tudo que eu falei. Sim, falar do sentimento natalino e suas consequências é um tema bastante óbvio quando estamos às vésperas das festas de final de ano. Mas tenho certeza também que a percepção de cada um é diferente.
O óbvio não me incomoda.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O último poema

de Manuel Bandeira

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.



Post inaugural